Não seja aquele que felicita pelo Dia da Mulher
Os indicadores sociais não mentem: ser mulher é trabalhar mais, ganhar menos e viver com muito mais risco de sofrer algum tipo de violência. Com a pandemia, o quadro ficou ainda pior, isolando muitas de nós não apenas social, como emocional e financeiramente. Então, em vez de desejar Feliz Dia da Mulher, é preciso encarar a realidade para revertê-la.
Falando apenas de mercado, a força feminina caiu, no terceiro trimestre de 2019, de 53,3% para 45,8%, quando comparada ao mesmo período de 2020. Os dados são da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua.
Mulheres com filhos foram mais impactadas, somando uma participação 35,2% menor que a de não mães, conforme um estudo chamado “Sem Parar – O trabalho e a vida das mulheres na pandemia”.
A dupla jornada, que passou a demandar ainda mais tempo e energia, levou 65,4% a indicarem que o trabalho doméstico e de cuidado dificulta muito a realização das funções remuneradas, chegando a inviabilizá-las para 2,6% das mulheres negras.
Se de uma posição privilegiada já senti fortemente esse cenário, não consigo sequer imaginar o peso sobre mães negras e da periferia. “A organização do cuidado ancorada principalmente na exploração do trabalho de mulheres negras e no trabalho não remunerado das mulheres é um fracasso retumbante para a busca de redução das desigualdades antes e durante a pandemia do coronavírus”, resumem as organizações Gênero e Número e SOF Sempreviva Organização Feminista, no site que apresenta a pesquisa.
Na prática
Promover a igualdade, a inclusão e a valorização é uma meta mínima quando queremos, de fato, pautar o Dia da Mulher. “Do contrário, a tão falada recuperação econômica mais uma vez se dará às custas de mais sobrecarga, exploração racista e precariedade, somada a uma renovada naturalização do ideal heteropatriarcal de família e à reprivatização do cuidado nas casas”, previne a socióloga Tica Moreno, da SOF Sempreviva.
Isso passa, invariavelmente, pelas nossas escolhas políticas e pelas condutas praticadas pessoal e profissionalmente. “Colocar a sustentabilidade da vida no centro é uma estratégia feminista para transformar nossa sociedade em uma que reconheça a interdependência, valorize quem cuida, redistribua o cuidado, reorganizando a economia”, acrescenta Tica.
Se a igualdade de gênero ainda é tabu ou mimimi pra você, sugiro ao menos o silêncio neste 8 de março.